Somos um universo de múltiplas minorias. Cada um no seu íntimo tem a sua minoria e todas têm o seu valor e o seu lugar de fala (conceito em voga).
Eu faço parte de algumas minorias, mas hoje quero falar de uma parte que me toca e não me afeta substancialmente, mas me incomoda um tiquinho e quero compartilhar com vocês essa minha ‘dor’! Poucos devem saber: sou canhota.
Estima-se que sejamos 15% da população mundial (enquanto 50% dos gatos são considerados canhotos).
Já faz um tempo que quero comprar uma luva que tira pelos mortos da minha gata, mas só existe (até onde pesquisei) da mão direita!
Dias atrás mandei mensagem pra uma página no Instagram que vende produtos para gatos e perguntei se eles tinham a luva com a mão esquerda, vejam o diálogo:
Perguntei:
“– Vocês têm pra canhotos? Só vejo a mão direita!” – A primeira resposta:
“– Só a direita. Mas se você é canhota é melhor usar a mão direita pra isso mesmo. Pro caso deles ficarem irados e quererem atacar a sua mão.”
Respondi:
“– Não tenho a mesma autonomia que com a mão esquerda!”
E o vendedor continuou com argumentos para me convencer a comprar a ‘mão direita’.
O retorno que eu queria e que penso adequado a um empreendedor, mesmo que isso fosse algo distante de efetivamente acontecer, eu faria isso:
“Ah, não temos, mas vamos anotar seu pedido e mandar para os fabricantes a reivindicação…”
São raros os ambidestros ou os que têm habilidade com as duas mãos!
E se fosse um deficiente que só tem o braço e mão esquerdos, o que o vendedor diria a ele?
Imagina o aumento de vendas que eles teriam! Tá, não seria significativamente maior, mas certamente seria empaticamente melhor…!
A título de curiosidade, seguem algumas dificuldades dos canhotos:
– a carteira escolar, quando encontrava para canhotos, era uma ou duas, às vezes quebrada… Lembro-me que nos tempos de escola e faculdade, de ter de procurar de sala em sala até encontrar uma e levar para minha sala;
– o posicionamento das teclas do mouse;
– tesouras;
– o formato do abridor de latas;
– caderno espiral;
– apontador de lápis;
– a posição do fio do ferro de passar roupa;
Além dessas, acrescento as minhas dificuldades: aprender a tocar violão (uma vez tive um professor, mas ele não conseguiu me ensinar porque precisava trocar a posição das cordas), acabei desistindo da carreira musical. Risos! Aprender crochê e tricô…
Essas são as que me lembro, sem falar nas superstições e preconceitos que os canhotos eram/são submetidos: já ouvi que não era de Deus, tive professora alfabetizadora que quis mudar meu aprendizado da escrita para a mão direita (isso era muito comum no Brasil antigamente) ou ouvir que levanto todo dia com o pé esquerdo.
Bem, ao longo da vida, me adaptei a tudo isso, mas seria muito legal encontrar mais produtos para canhotos.
E se algum de vocês já viu a luva com a mão esquerda em algum lugar, me dá um toque, por favor!
Essa história me remeteu a um poema de um dos meus poetas preferidos:
“Hipótese
E se Deus é canhoto e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.” (Carlos Drummond de Andrade)

Adorei. Vc está enfatizando sobre a diversidade humana e como o sistema é padronizado.